harlan ellison e fascismo

numa noite de sonhos intranquilos fiquei lembrando sobre a analogia do corpo canceroso de D e G. talvez seja interessante porque o câncer é um tipo de autofagocitação: um corpo lutando contra um outro (derivado de si mesmo), cujo fim último seria essa mesma autodestruição, ao passo que, aos poucos, não há mais esse outro pra ser destruído. em última instância, o fascismo teria de se autoimplodir, pensando numa abstração em que ele tenha se livrado de todos as alteridades possíveis. no 'i have no mouth and i must scream', harlan ellison talvez tenha pensado numa máquina fascista perfeita: um supercomputador que fagocita tudo ao redor, reproduzindo apenas a si mesmo dessa relação. no final, o que sobra é apenas AM, o computador. para que ele não se autodestrua, o computador deixa vivo 5 humanos, tornados virtualmente imortais. AM tortura e mata esses humanos de diversas maneiras pra continuar a ter um outro a quem direcionar a ânsia por violência física e existencial. AM precisa continuar a eliminar esses outros, para não voltar a violência a si mesmo. talvez seja um exemplo bem direto que seria um corpo canceroso que se autodestroi. a cada destruição, AM (ou o fascismo) é esvaziado de sentido na medida em que não há mais um inimigo. quando não há mais o que matar, mata-se a si mesmo.