dia 1

inúmeras justificativas se põem pra gente não resolver, ou não poder seguir, certos hábitos dia pós dia. é difícil, todo dia em que levantamos é um experimento. viver é experimentar, não tem outra maneira de por isso. qualquer outra pessoa que traz uma álgebra da vida é charlatão, no conceito da palavra.

então, temos que jogar com que podemos fazer e com o que a vida nos põe na mesa. até certo ponto, esse embate conceitual-linguístico-ético é possível, dentro do nosso estado atual e momentâneo. somos nós e nossa câmara de espelhos. nem sempre escolhemos as melhores decisões, quase sempre escolhemos aquilo que traz prazer imediato. e isso não é de todo ruim. faz parte do nosso entendimento como gente negociar prazer e dever-fazer. o que é dever, no entanto, não pode ser um imperativo, mas uma ética, e uma estética, do abraço. pra gente tentar não cair em reduções nocivas do viver.

essa baboseira toda pra dizer que vou tentar escrever um pouco a cada dia. trazer fora da mente, o tanto desse jogo que se dá. se eu consigo, ou não, negociar com a vida por dentre os pequenos espaços que ela dá. meio que tentar agir com microações até ver o local que essa correnteza incipiente pode me levar. por que tento manter um diário há anos e não consigo. são no máximo semanários, quando muito.

e acredito que preciso de um objetivo aqui, um motivo. e talvez esse motivo seja apenas perceber o externo, perceber as pessoas que me ajudaram a cada dia, como os dois garçons que me ofereceram bebida num restaurante, mesmo que por uma obrigação contratual, ou pensar no que levou a moça da mesa ao lado tatuar flores no ombro (talvez ela só goste de flores, talvez ela apenas tenha gostado do desenho, as possibilidades são inúmeras). ver as pessoas que ajudam a gente a conseguir viver. e não pode ser algo com muito atrito, porque num dia de cansaço, sei que vou priorizar o mínimo esforço.

é isso, a partir de hoje, vou tentar, porque tentar foi o que sobrou pra gente e não tô alheio às experimentações da vida.

#diário #ética